10 08 SBCAT 2020 Publicacao NotíciaLá se vão 44 anos desde que escolhi a Engenharia Química como profissão, em 1977.  Que saudade! Na graduação, fui monitor na disciplina Controle de Processo, na qual aprendi a instalar os controles de uma planta piloto de produção de etanol, nos fundos do prédio da EQ/UFRJ. Porém, me entusiasmei pela catálise nas aulas show do professor, e amigo de sempre, Eduardo Falabella, que me convidou para desenvolver um trabalho em parceria com a indústria. Sempre tive vontade de aprender e realizar no campo, na planta industrial. Fui nessa. O tempo passou rápido e, em junho de 1981, terminei a graduação na UFRJ. Formei-me em 1981 e queria trabalhar na indústria. A crise (sempre há uma crise) e uma oferta imperdível mudaram meus rumos: fui contratado como engenheiro, em setembro de 1981, em um projeto da COPPETEC para ajudar no desenvolvimento de uma pilha alcalina a hidrogênio. Indescritível, top da ciência na época! Fiquei empolgado. E o salário era muito bom! De quebra, cursei, a partir de março de 1982, o Mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais na COPPE/UFRJ. O tema da dissertação foi “eletrodos de níquel Raney para a eletrocatálise do hidrogênio”. Defendi a dissertação em maio de 1984, sob orientação da saudosa professora Aída Spínola e uma plêiade na banca: Horário Macedo, Giulio Massarani e Oscar Rosa Matos. Enquanto finalizava a dissertação, fui contratado para um trabalho na Bahia: fazer a imobilização da a-amilase em celulose microcristalina em projeto de tecnologia para produção de álcool etílico a partir da mandioca.

Terminando o mestrado, caí no mundo e mandei o currículo para algumas empresas. Enquanto isso, o professor José Luiz Monteiro me chamou para ser bolsista de um projeto tecnológico na UFRJ. Medidas de fluxos em meio trifásico, utilizando radiação gama. Muito bom trabalhar com ele. Fiquei pouco tempo no projeto e fui selecionado, pelo Marco Ebert e o Fernando Lira, para a Copene (atual Braskem), em novembro de 1984. Era para ajudar na criação de um centro de tecnologia da Empresa na Bahia. Bom, perdi o primeiro “Rock in Rio”, em 1985, mas fiquei na Bahia, onde construí minha vida: família, trabalho e amigos.

Na Braskem, segui a carreira na catálise com pesquisa aplicada, visando ao entendimento dos catalisadores da empresa e, principalmente, à aplicação da catálise no processo industrial. Em 1986, fiz uma pós-graduação latu sensu em Cinética e Catálise, tendo professores como Levenspiel, Grange e Trimm e Ulf entre outros. Em 1987, fiz um treinamento no processo de reforma catalítica de nafta na Universal Oil Products (UOP), em Chicago e, em seguida, passei três meses no Instituto de Catálise e Petroquímica da Argentina (INCAPE), em Santa Fé, com o saudoso Prof. Jose Parera e o ilustre Prof. Carlos Apesteguia. Grande vivência com os hermanos e amizades eternas. Trabalhei com Pt-Re/Al2O3 na reforma de nafta, otimizando a acidez para as reações que ocorrem nos quatro reatores de leito fixo radial da Planta. Na bancada de laboratório, trabalhei com reatores diferenciais, integrais de leito fixo e reatores com reciclo interno (tipo Berty/Carberry), na preparação de catalisadores para o processo de isomerização de xilenos e etilbenzeno e desenvolvi um sistema para carregamento de catalisadores em reatores que aumentou em 20% a capacidades de várias plantas industriais. 

Em 1989 me envolvi com a gestão de PDI na Braskem, mas continuei na vida acadêmica fazendo o doutorado na Unicamp com o saudoso professor Mario Mendes, tendo um estágio na USP, com o fantástico professor Cláudio Oller e boas discussões com o Prof. Galo Le Roux. O assunto foi a modelagem cinética das reações de reforma catalítica de nafta. Nessa época, representei, por alguns anos, a Bahia na Comissão de Catálise do IBP e participei da reunião que decidiu criar a SBCat e lançar o Congresso Brasileiro de Catálise, em 1997.  Sob supervisão de Professor ícone Dilson Cardoso, ajudei na escrita do primeiro estatuto da SBCat. Saí da Braskem em novembro de 1996. Defendi a tese em janeiro de 1997, visando a um concurso para professor da UFBA, onde fiquei por 8 meses.

Em 1996, em Natal, aconteceu o 1º Encontro Regional de Catálise, brilhantemente organizado pelo amigo Prof. Antonio Araujo, da UFRN. Outros onze encontros aconteceram desde então, a cada dois anos, organizados por professores guerreiros, levando a motivação da catálise ao Nordeste, Norte e Centro Oeste do País. O próximo Evento será em Teresina, de forma virtual ou presencial, como o Covid determinar. Pude colaborar com esses Encontros, através da Rede de Catálise do Norte-Nordeste (RECAT) e do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Regulação (IBTR). A RECAT marcou uma época! O apoio da FINEP, tendo em destaque o Rogério Medeiros e o Sérgio Alves, bem como a participação da Petrobras, nas pessoas de Oscar Chamberlain, Lam Lao e Rodolfo Roncolatto, permitiram que os pesquisadores em catálise dessas regiões se unissem trocando experiência e compartilhando infraestrutura.

O Congresso Brasileiro de Catálise foi hospedado várias vezes no Nordeste: em 1999, em Salvador, organizado pela Professora Soraia Brandão; em 2007, organizamos o evento em Porto de Galinhas, Pernambuco, em coorganização com a querida Profa. Celmy Barbosa e tendo Prof. Antonio Araujo na Comissão Científica; em 2015, levamos novamente para a Bahia, em Arraial d’Ajuda, Porto Seguro, onde fiquei responsável pela organização e a eficiente professora Maria do Carmo comandou a Comissão Científica.

Em meu caminho profissional, aceitei um convite do Prof. Manoel Barros, uma das pessoas mais marcantes em minha vida, para criar cursos de engenharia e consolidar a pós graduação, na Universidade Salvador (Unifacs), que despontou por suas características de inovação e investimentos na pós-graduação e na pesquisa. Com uma excelente equipe, em 20 anos, conseguimos trazer para a Unifacs nomes importantes das áreas de catálise, polímeros e adsorção, como os professores Roger Frety, Humberto Polli, Leila Aguilera, Antonio Osimar, Eledir Sobrinho, Luciene Carvalho e Elba Gomes entre outros. Em 2007, a convite da professora Silvana Mattedi, criamos um Doutorado em Engenharia Química, em associação ampla UFBA/Unifacs. A parceria continua desde então e muitos professores têm levado o curso a um alto patamar científico. Voltei à UFBA, como professor em tempo parcial, em 2011. Em julho de 2017, me fixei, definitivamente, na UFBA, como professor em dedicação exclusiva. Em 2018, recebi, com muito orgulho, o título de Professor Emérito da Unifacs e, em 2019, recebi da Presidente da SBCat, a incrível professora Sibele Pergher, o título de Sócio Honorário da SBCat. Emoção pura!

Sim, lá se foram 44 anos. Parece que foi ontem. Como é bom ser professor! A convivência com os jovens é muito rica. A pesquisa permite essa interação e me rejuvenesce.

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