IMG 20220511 090349 882Um sonho de criança... ser arqueologista, depois oceanógrafa, depois o profundo interesse pela história antiga... E qual a relação com a Engenharia Química? A paixão pelos mistérios da transformação. De uma apaixonada pela história antiga até a paixão pela química, pelos materiais, elétrons, nanopartículas, sítios catalíticos, etc. Está tudo interligado! Hoje nós somos a própria teoria da “Dualidade Partícula-Onda” e, com a concretização da teoria em prática, através da tecnologia dos equipamentos nos foi possível avançar e enxergar. Foi em 1983, ainda com 15 anos, que comecei a cursar Engenharia Química na Escola de Química da UFRJ. Os anos da graduação não foram anos fáceis! Lembro bem da prova que levou sete horas de duração (muitos colegas contemporâneos irão lembrar). Como cadeira eletiva do curso, o primeiro contato com a catálise. Professor Martin Schmal (COPPE/UFRJ), com suas aulas fazia brotar ainda mais meu interesse pela catálise heterogênea e pela cinética das reações. Ele esteve presente em quase toda minha jornada, desde o doutorado na COPPE/UFRJ até o pósdoutorado em Berlin, Alemanha. A maturidade científica e pessoal vinha sendo construída ao longo do doutorado, desenvolvendo estudos tendo como raiz sólida o conhecimento repassado por muitos que dedicaram e seguem dedicando suas vidas para a pesquisa e o desenvolvimento. A partir da base, a minha maturidade alçava os primeiros vôos com o pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000 a 2002), onde tive o imenso prazer de conviver e trabalhar com o Professor Roberto Fernando de Souza e a Professora Michèle Oberson de Souza. Seguindo o curso da vida, tal como o curso de um rio, o deságüe em novos horizontes foi inevitável favorável. De volta ao Rio de Janeiro em 2002, eu compus a equipe de projeto coordenado pelo professor Martin Schmal e no ano seguinte, mais precisamente em setembro de 2003, estava eu a Ingressar no Fritz Haber Institute of the Max Planck Society, sob a direção do Prof. Dr. Hans-Joachim Freund. Um mundo científico novo e fascinante, difícil e desafiador ao mesmo tempo. Desenvolver estudos devotados à ciência de superfície, na obtenção de filmes de nióbia da ordem de angstroms foi uma superação e tanto!...A experiência que lá passei, foi como se tivesse vivido em dois anos, o que o teria feito em dez. Tanta história e tanta vanguarda! Nestes dois anos de imersão pude aprofundar meus conhecimentos nas técnicas que operam em ultra alto vácuo e entre elas a de espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS). Na mesma trilha, retornei ao Brasil e fui trabalhar no INMETRO. Somando esforços junto a queridos colegas icônicos como o professor Carlos Achete (INMETRO-PEMM-UFRJ), Professor Fernando Stavale (CBPF-MCTI) e professor Daniel Weibel (UFRGS) e o professor Horst Niehus, da Humboldt Universität, Berlim, instalamos, montamos e desmontamos e operamos o XPS do INMETRO, apoiada pelo CNPq (554455/2006-4) no projeto intitulado “Óxidos metálicos: nanocatálise, interface entre a ciência de superfície e a catálise”. Apertei muitos parafusos!!! Estes pesquisadores foram formidáveis com os quais pude aprender muito em XPS, dentre outras técnicas que operam em Ultra Alto Vácuo. A motivação sempre foi a catálise, nanocatálise, nano, a reatividade e a superfície dos materiais dos catalisadores. Muito aprendi, cresci e caminhei. Com o amplo portfólio de conhecimentos adquiridos, tomei posse, em 2009, como pesquisadora concursada no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), atuando na Divisão de Catálise, Biocatálise e Processos Químicos (DICAP). Dentre as muitas atividades, venho nestes longos doze anos me dedicando a implementação, desenvolvimento e disseminação da técnica de XPS. Pude Conduzir e acompanhar (com a ajuda de muitos), mais uma vez, a instalação, operação e implementação da técnica no Centro de Caracterização em Nanotecnologia para Materiais e Catálise (o CENANO). Desde 2010 componho o grupo gestor do CENANO, sempre promovendo e difundindo a técnica e somando esforços a muitos colegas na implementação do centro. Nestas décadas, no meio a muitos livros e estudos identifiquei a necessidade de livros básicos sobre XPS, escritos na língua portuguesa e que permitissem aos usuários interessados descortinar o “pequeno grande mundo” dos fenômenos físicos e aplicações do XPS. Oportunamente obtive financiamento da FAPERJ para a edição de dois livros na área: o primeiro em 2011 – “Introdução à técnica de espectroscopia fotoeletrônica por raios X” (ISBN 978-85-61325-61-9) – e outro lançado em outubro de 2015, “Introdução à técnica de espectroscopia fotoeletrônica por raios X: Tratamento dos dados gerados – tutorial do software XPS” (ISBN 978-85-68483-10-7). Dentre os frutos, parcerias e colaborações importantes como, por exemplo, a com o Dr. Neal Fairley, Inglaterra, criador do software de tratamentos de dados “CASAXPS”, que nos auxiliou a interpretar as análises em elementos químicos ditos “não convencionais”, como é o caso do Rutênio, muito importante no campo da catálise e a parceria com Alexandre Melo e Fernando Stavale, do CBPF. Desde a implementação da técnica de XPS no INT, a atuação foi transversal, permitindo diferentes parcerias politécnicas com entidades científicas (institutos de pesquisa, instituições de ensino e empresas) e, principalmente com a equipe do Cenano (bolsistas e servidores). No campo da catálise, desde o início, o comportamento catalítico e o ambiente eletrônico entre a interface dos metais ou óxidos de metais de transição como, por exemplo, molibdênio, nióbio, vanádio, magnésio, somado ao interesse pelo domínio da síntese de nanopartículas permeiam o centro das linhas de pesquisa as quais conduzo e me dedico. Não poderia deixar de mencionar ao Dr. Paulo Gustavo Pries de Oliveira com quem iniciei parceria em 2010 e mantenho até hoje buscando a formulação adequada para a obtenção seletiva de propeno para a oxidação desidrogenativa do propano. O desenvolvimento de um carvão ativado a partir da palha de cana de açúcar foi alcançado a partir da idéia que surgiu em 2013. Logo, um leque de oportunidades de usos e aplicações tecnológicas foi aberto e mais parcerias vieram estreitando e mantendo laços com UFN, UFS, UERJ, UFSC. O uso deste como suporte na formulação de catalisadores para a oxidação de alcanos leves, assim como na formulação de materiais compósitos carbonáceos a base de óxido de grafeno, encontra aplicação nos mais variados setores como catálise, tratamento de água, e mais recente, ainda embrionário, no desenvolvimento e síntese de eletrocatalisadores para a redução do CO2 em CO. Estas são linhas de pesquisa nas quais venho atuando: uma árvore com fortes raízes e novos galhos que buscam o futuro. Em todas as atividades científicas, a caracterização por XPS está sempre presente. Finalizando, trago dois destaques: coordenar o projeto SisNano (Sistema Nacional de Nanotecnologia- MCTI), que traz o CENANO como laboratório estratégico do MCTI e compor a equipe do grupo de trabalho “BRICS Working Group on Materials Science and Nanotechnology”.

A vida é um colar de pérolas e cada pérola, um amigo, uma passagem, um momento que se eterniza. Assim é a catálise, assim sou eu. Por que mencionar (haveria mais a destacar) algumas pessoas? Porque nosso crescimento profissional não seria nada sem nossos amigos, nossos parceiros.

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