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08 02 SBCAT MicheleOberson NotíciaSou francesa de nascimento e de formação acadêmica. Me tornei brasileira como esposa de Roberto Fernando de Souza e mãe de nossos dois filhos. Foi no Brasil onde iniciei a minha vida profissional em 1987. Iniciei meus estudos universitários na Universidade Paris XI na França, hoje Universidade Paris-Saclay, o que me permitiu integrar a Escola de Engenharia Química de Rennes (ENSCR), igualmente na França. Atraída pelos avanços tecnológicos e, devido à minha curiosidade pela ciência de forma geral, percebi que precisava continuar meus estudos antes de iniciar uma carreira profissional.

Meus primeiros contatos com a pesquisa no final de minha graduação me motivaram para concorrer a uma bolsa de Doutorado financiada pelo CERCHAR (Centro de pesquisa que trata da exploração e transformação do carvão) no famoso Institut de Recherches sur la Catalyse, hoje LRCLYON, em Lyon-França. O tema era desenvolver o “Estudo dos mecanismos de hidroliquefação do carvão na presença de catalisadores de ferro, molibdênio e estanho", tendo como objetivo produzir um combustível líquido a partir do carvão. Escolhi a área da Catálise, da qual muito pouco sabia, principalmente por poder trabalhar no então IRC, um dos mais famoso Instituto do CNRS da França na área da Química. O Dr. Henri Charcosset me selecionou após uma entrevista telefônica. De setembro 1984 a junho 1987 efetuei então meu doutorado. Foi neste período que conheci o Roberto, que era doutorando no Laboratório do Dr. Igor Tkatchenko. Imediatamente fiquei impressionada pela maturidade humana e científica do Roberto que, na época, já era reconhecido por seus pares como sendo um jovem pesquisador talentoso. Foi nessa época que decidi que dividiria a minha vida com ele, que abraçaria a sua missão para contribuir, com nossas atividades profissionais, para o desenvolvimento do Brasil e da ciência.

No então IRC, com seus mais de 100 pesquisadores, a sua comunidade internacional, suas relações com o mundo industrial, descobri a Catálise, suas múltiplas áreas fronteiras como química teórica, físico-química, inorgânica, orgânica, organometálica, analítica, eletroquímica, foto-química, materiais e todas as engenharias com aspectos de ciência fundamental, aplicações industriais e sua estreita relação com o meio produtivo. Percebi principalmente a importância de saber trabalhar com equipes de especialistas, habilidade chave para quem quer ingressar nessa área, para encontrar soluções de problemas complexos. Meu tema de pesquisa, a sua complexidade, tanto do material de partida tanto quanto dos compostos formados, exigiu um trabalho em equipe e a expertise de diversos Laboratórios que estavam organizados em um formato de rede científica, algo muito inovador para a época. Meu papel nessa estrutura foi de compilar os resultados de caracterização dos catalisadores e dos produtos de hidroliquefação extraídos após os testes catalíticos. Por um lado, desenvolvi muito minhas capacidades de organização, comunicação científica devendo dialogar com diversos especialistas, mas pelo outro, tive que conter a frustação de não poder sempre efetuar todas as etapas do desenvolvimento dos estudos. Porém, tive o privilégio de conhecer o funcionamento de cada Laboratório e neles de planejar e desenvolver pessoalmente alguns experimentos e análises. Hoje não consigo imaginar como tudo isto foi possível sem ter internet a disposição…usava-se o telefone (fixo para telefonar) e os correios. Mas com certeza, além de ter obtido uma formação solida na área da Catálise, desenvolvi minhas habilidades em trabalhar em equipe, trabalhar para o coletivo, o que acredito ser fundamental para ter um papel significativo na sociedade atual, e o caminho para deixar um legado para as gerações futuras, o que igualmente deveria ser o principal motivo de nossas atividades frente à realizações pessoais.

Cheguei em agosto 1987 em Porto Alegre, no Instituto de Química da URG como bolsista do governo francês (Programa que me foi indicado pelo Prof. Roger Frety, meu vizinho de corredor no IRC) para trabalhar com o recém contratado Prof. Roberto para iniciar um novo Laboratório, no Laboratório de Reatividade e Catálise (LRC - www.ufrgs.br/lrc/). No mês seguinte, participei do 4º Seminário Brasileiro de Catálise em Canela, apresentando oralmente em português os resultados de meu doutorado. Essa época foi sinônimo de muito trabalho e engajamento, estabelecendo relações com as indústrias do polo petroquímico vizinho, instalando o LRC, acolhendo os primeiros estudantes de Iniciação Científica e criando uma disciplina de catálise, que de forma pioneira incluiu tantos aspectos da catálise com compostos organometálicos que com compostos sólidos.

Eu decidi de deixar a área do carvão, tendo em vista que a CIENTEC tinha um centro bem avançado na área e, também para unir esforços para a criação do LRC a fim de alcançar resultados mais rapidamente. Aprendi a sintetizar complexos organometálicos sob atmosfera inerte, suportá-los sobre sólidos para produzir sistemas híbridos a serem testados na reação para a qual o Roberto tinha adquirido expertise durante seu doutorado, a oligomerização de olefinas leves. Me tornei Professora concursada do Departamento de Físico-Química em novembro 1990. Isso implicou trabalhar como educadora do ensino superior e ser pesquisadora. Duas profissões complementares e essenciais para alcançar qualidade e eficiência em ambas. Ao longo dos anos seguintes, orientei as pesquisas para responder à problemas ambientais, energéticos, tecnológicos, agregando conhecimento adquiridos na área das zeólitas durante um ano passado no Laboratório de Denise Barthomeuf em Paris em 1994 e colaborando com os membros do LRC nas diversas linhas que foram geradas ao longo dos anos. Trabalhei muito para o desenvolvimento da SBCat, da qual sou co-fundadora e foi com muita energia e prazer que ajudei em organizar vários congressos nacionais e internacionais dessa sociedade onde tenho muitos colegas e amigos e com quem colaboro regularmente. A Catálise é uma área da ciência encantadora, pois é dela que encontraremos soluções sustentáveis para resolver questões ambientais, energéticas, entre outras. Uma área que hoje tem a ciência do “bio” como mais nova fronteira, é um desafio para as jovens gerações que ingressarem na área da Catálise, o que encorajo fortemente.

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