Realmente é muito difícil falar de si mesmo e falar pouco, mas vou tentar esperando não esquecer de ninguém que me ajudou na minha trajetória. Sou natural de Porto Alegre (nascimento 15/03/1968), tive a oportunidade de ter uma boa formação escolar e apoio familiar, o que resultou em eu fazer o curso de Engenharia Química na UFRGS. Na época era muito difícil entrar numa federal e lembro de isso ser um dos primeiros grandes desafios na minha vida, que levou muita dedicação e estudo de minha parte. Juntamente com a Engenharia Química eu fazia faculdade de Música (Piano). Mas para a alegria de muitos ouvidos, acabei por deixar a música e me dedicar exclusivamente a engenharia química. Nesta época, estou falando entre os anos 1985 a 1990, não havia de forma consolidada a Iniciação Científica, então se fazia de forma voluntária ou com bolsas de Monitoria.
Eu tive a oportunidade de ser monitora de Química Analítica Qualitativa e fazer pesquisa com a prof. Maria Augusta de Lucca. Na época fazer uma revisão bibliográfica, significava ficar semanas na biblioteca olhando resumos de artigos no Chemical Abstracts que era vários volumes (tipo enciclopédia, talvez muitos de vocês nem saibam o que é isso). Depois de selecionar os artigos pelos resumos a gente pedia via COMUT uma cópia, que as vezes demorava meses para chegar. Hoje em dia a facilidade de acessar artigos é tão grande que falta tempo para ler.... Também fiz monitoria de Geometria Analítica (essa foi só monitoria mesmo) e monitoria de Físico- Química desenvolvendo pesquisas com a prof. Yeda Dick. Também durante a universidade tive a oportunidade de estagiar no polo petroquímico de Triunfo em duas empresas: a COPESUL que era de primeira geração e a PETROFLEX de segunda geração. Foram experiências maravilhosas, andar numa planta, ver os processos, foi muito empolgante. Nesta época de faculdade fiz amizades que duram até hoje, com o José Ribeiro Gregório (Zeca) e a Katia Bernardo Gusmão.
Quando finalizei o curso de Eng, Química (me formei dia 28 de dezembro de 1990) resolvi fazer mestrado, pois ainda tinha dúvidas se seguia a vida acadêmica ou industrial. Das possibilidades que tinha na época acabei escolhendo ir para Maringá – PR para fazer o mestrado (1990 – 1993). Fui da Primeira turma do Mestrado em Engenharia Química da UEM (a primeira a defender), fui orientada pelo Dr. Renato Sprung e era companheira de laboratório (reatores vizinhos) da Nádia ReginaCamargo Fernandes Machado (que acabamos sendo muito amigas e companheiras de vários congressos na área de catálise). Com a orientação do Renato Sprung aprendi muito, ele era aquele tipo de orientador que você ia com uma dúvida para tirar e saia com 10 (kkk). E com isso aprendi a pensar, a programar experimentos e sentir que era capaz de desenvolver qualquer pesquisa que me dessem como desafio. Tenho um carinho muito grande pelo Renato Sprung, foi realmente um orientador, um mentor, um pai. O meu mestrado eu fiz em Argilas Pilarizadas, tema que até hoje tenho muito carinho e trabalho. Durante o meu mestrado tive a oportunidade de fazerum curso do Giuseppe Giannetto na UFSCAR, nesta época conheci o Eledir Vitor Sobrinho que me ajudou muito nas análises das minhas argilas pilarizadas (na minha dissertação nos anexos aonde coloquei todos os difratogramas de Raios X aparece o operador Eledir, kk). Até hoje somos amigos, e para minha felicidade, colegas de trabalho.
Nesta mesma época conheci ao Alexandre Leiras que é meu amigão até hoje e que tenho que agradecer inúmeros apoios que ele sempre me deu nas minhas decisões (uma foi de fazer o concurso da UFRN). Eu acabei indo muito a São Carlos, para assistir defesas de teses, fazer análises etc. Conheci muita gente que até hoje tenho amizade se eu for citar todos, com certeza vou esquecer de alguém. Quando defendi o meu mestrado chamei o Dilson Cardoso para a banca (afinal eu ia tanto a São Carlos que me sentia um pouco do grupo também). Na época eu já tinha sido aceita para fazer o doutorado integral em Argilas Pilarizadas com a Sagrário Mendioróz em Madrid - Espanha. Mas durante a minha defesa de mestrado, o Dilson Cardoso me perguntou por que eu não ia para Valência que lá tinha um pesquisador chamado Avelino Corma que trabalhava com zeólitas. Eu já tinha feito o curso do Giannetto, achava o tema interessante, achei que poderia ser uma boa aprender um assunto novo. E acabei escrevendo para o CNPq e solicitando mudar a minha bolsa para em vez de eu ir para Madrid com a Sagrário ir para Valência com o Corma. São decisões que a gente toma, sem saber que resultados vamos ter.
Se eu tivesse ficado com a Sagrário teria sido colega de laboratório do Karim Sapag (que no final nos encontramos em congressos na Espanha e fizemos amizade nesta mesma época). Bom, então fui para Valência fazer meu doutorado integral. Nesta época já namorava há uns 4 anos (por carta) meu futuro marido Lucas (Argentino) e achei complicado ficar mais 4 anos longe (agora com o “charco” separando-nos) e dei um ultimato, “ou vens ou terminamos”. No final ele foi para Espanha e nos casamos em Valência. Lá eu desenvolvi a minha tese de Doutorado no Instituto de Tecnologia Química – ITQ na Universidade Politécnica de Valencia – UPV sob a orientação do Dr. Avelino Corma e Dr. Vicente Fornés (1993 - 1997). Como colegas e amigos de ITQ tive vários pesquisadores conhecidos hoje como: Fernando Rey, Cristina Martinez, Antonio Chica, Susana Valencia, Eduardo Palomares, Rut Gil, Julia Aguilar (Mexico), Lindoval Fernandes (Brasil), Pedro Arroyo (Brasil), entre outros. De chefes (pesquisadores) tínhamos além do Avelino Corma e Vicente Fornes, Agustín Martinez, José Manuel Lopez Nieto, Amparo Mistud, entre outros.
Bom, nesta época morávamos no ITQ, praticamente passávamos 16 horas por dia lá, estávamos sempre trabalhando e inventando algo. Era um ambiente muito agradável. E muitas vezes saímos do ITQ e íamos “de copas” por aí. Tempos muito bons. Eu consegui desenvolver uma tese que tenho muito orgulho, desenvolvi a ITQ-2, aprimeira zeólitadeslaminada, e isso abriu um novo campo de estudo na área de zeólitas: as zeólitas lamelares. Como resultado deste trabalho, fizemos uma patente europeia e depois mundial, a Shell comprou a patente, publicamos um artigo na Nature, foi muito legal ver todo o esforço recompensando e o resultado da tese sair do laboratório e ir para a indústria. Logo depois disso voltei para o Brasil, apesar de ter tido convites para ficar na Espanha e para ir trabalhar na Shell na Holanda, quis voltar ao Brasil. E acabei ficando 5anos vivendo de bolsas (época Fernando Henrique Cardoso), tive bolsa de recém doutor, trabalhei de professor substituto, fiz pós-doutorado, tudo na UFRGS no IQ com a Profa. Dra. Ione Maluf Baibich que tenho maior admiração e carinho. Nesta época me reencontrei com os amigos Zeca e Katia e fiz muito outros, como Roberto Fernando de Souza, MichèleOberson de Souza, Rogério Dallago, Anelise Gerbase, entre outros. Essa época de UFRGS (1998 a 2001) foi muito boa para mim, apesar de estar vivendo de bolsas e no limite, estive perto da minha família (em Porto Alegre) e tive minhas duas filhas (Caterine e Malena). Minha pesquisa nesta época foi voltada para catalisadores automotivos em que eu incorporava metalcabonilas (de Mo e W) em diferentes suportes zeolíticose mesoporosos.
Foi bem legal, aprendi muito. Nesta época fizemos uma colaboração com o PLAPIQ em Bahia Blanca onde trabalhamos com Daniel Damiani e Carlos Gigola. Neste tempo de UFRGS, eu comecei a ficar bem atuante na Catálise e participava de todos os eventos de catálise (CBCats e Iberos). Nestes eventos fiz muitos amigos um dos quais foi o saudoso Victor Teixeira, Luis Pontes, Silvia e Zeca da UNB, Marco Fraga, entre muitos outros...... Com o pessoal da UFRGS, organizamos um CBCAT em Bento Gonçalves em 2001. E nesta época eu já estava me mudando para Erechim onde consegui trabalho no Curso de Química da URI. Trabalhei em Erechim de 2001 a 2010. Lá montei o laboratório LAQAM de química ambiental e pesquisei em síntese de materiais como zeólitas e argilas pilarizadas. Nesta época tinha como colega e amigos Rogério Dallago, Fábio Garcia Penha, entre outros. Em 2010 fiz o concurso para UFRN na área de Química de Petróleo com um apoio muito grande dos amigos Alexandre Leiras, Victor Teixeira e Katia Gusmão (minha BFF). Foi uma mudança muito grande na minha vida, sair do Rio Grande do Sul para o Rio Grande do Norte.
Na UFRN eu montei o LABPEMOL, Laboratório de Peneiras Moleculares, trouxe vários alunos de Erechim para cá (mais de 12), hoje pesquisamos sobre síntese, caracterização e aplicação de peneiras moleculares.Mais especificamente sobre síntese de zeólitas, materiais mesoporosos, argilas pilarizadas, materiais lamelares pilarizados e desalminados. As aplicações são em catálise a adsorção. Na UFRN fiz muitos amigos catalíticos também como Anne Gabriella e o Vinícius Caldeira (estes dois hoje professores da UERN), entre outros.
Hoje estou como Presidente da Sociedade Brasileira de Catálise, a qual tenho muito carinho, porque me trouxe muitos amigos, muitas oportunidades de aprendizado, crescimento pessoal e profissional. Me considero uma pessoa feliz, afortunada, sempre consegui o que me predispus a fazer, e acho que foi porque sempre tive amigos que me apoiaram e sempre trabalhei muito para conseguir superar os desafios.