16 03 SBCAT Katia NotíciaEu nasci e cresci em Porto Alegre. Meus pais, apesar de não terem tido acesso nem ao Ensino fundamental completo, sempre, entusiasmaram e apoiaram minha irmã e eu a estudar. Estudei em 3 excelentes Escolas (Todas Públicas). Confesso que eu que escolhi a do segundo grau (Ensino Médio). Minha escolha teve duas razões: a Escola Estadual Dom João Becker era conhecida como uma escola pública com uma formação bem exigente, o que me parecia o caminho para ingressar na Universidade Pública. Além disso, o ensino era profissionalizante. Lá tive a oportunidade de escolher a ênfase em Auxiliar de Laboratório de Análises Químicas. Depois de muita química e muita matemática o Vestibular (meu objetivo) nem me pareceu algo duro (como era na época). Ingressei na UFRGS, em Química.

Inicialmente, pensava que iria ser da área Industrial e optei pela ênfase Química Industrial. Nesta época (1985) que conheci minha atual melhor amiga, a catalítica Sibele Pergher. Durante a graduação fui monitora de Química Geral, tendo como colega meu amigo, também catalítico, José Ribeiro Gregório. Minha Iniciação em Pesquisa foi em Ecologia. Fui bolsista do CNPq, no Centro de Ecologia da UFRGS durante 3,5 anos, sendo orientada pelo Prof. Dr. Tuiskon Dick. Este período foi muito importante na minha formação, pois foi quando foi cultivada em mim a metodologia científica. Ao concluir o curso surgiu o desejo de realizar o Mestrado em área mais próxima da Química do que a experiência que a Ecologia me proporcionava. Na época, a seleção de Mestrado no PPGQ/UFRGS era só em março e eu me formei em julho. Então, por sugestão do colega catalítico, Adriano Lisboa Monteiro, fui conversar com o jovem Professor Roberto Fernando de Souza, que tinha uma Bolsa do CNPq de Aperfeiçoamento em Catálise.

Ingressei no Laboratório de Reatividade e Catálise (LRC) em 1990. Após o aperfeiçoamento ingressei no Mestrado, sob orientação do Prof. Roberto Fernando de Souza e da Profa. Michèle Oberson de Souza. Na minha Dissertação de Mestrado estudei o efeito da adição de fosfinas em reações de oligomerização do propeno catalisadas por complexo de níquel. Tendo em vista que quando conclui o Mestrado não existia ainda Doutorado no PPGQ/UFRGS usei a experiência do Prof. Roberto para a escolha onde desenvolver minha Tese. Ele me sugeriu fazer Doutorado pleno no Laboratoire de Chimie de Coordination (LCC), na Université Paul Sabatier – Toulouse, França, sob a orientação do Dr. Bernard Meunier. Na minha Tese desenvolvi novas bases de Schiff de Manganês visando a epoxidação enantiosseletiva de olefinas.

Com a experiência do período que tive a oportunidade de ser do grupo do Dr. Meunier acabei tendo uma formação complementar a do Roberto e da Michèle e fui convidada a retornar ao LRC. No meu retorno ao Brasil, fui bolsista Recém-Doutora (atual PDJ), sob supervisão do Roberto, estudando a epoxidação enantiosseletiva em sistemas bifásicos usando líquidos iônicos. Durante este período fui no 9° Seminário Brasileiro de Catálise, Evento em que foi fundada a SBCat. Com isso, me tornei sócia fundadora da SBCat, a qual sou atual Vice-Presidente. Neste mesmo Evento foi decidido transformar os nossos Encontros em Congressos e surgiu os queridos CBCATs. Gosto muito de participar de Eventos Científicos, mas o CBCAT é, sem dúvida, o que me sinto mais entre amigos e que adoro reencontrá-los e conhecer novos colegas. Tenho muitos amigos graças aos Eventos da Sociedade.

Na sequência, fui Professora Substituta do Departamento de Química Inorgânica da UFRGS (período que minha amizade com Sibele Pergher foi fortalecida enormemente). Depois, Pós-Doc, sob supervisão do Roberto, desenvolvendo novos complexos de níquel (com ligantes iminofosforanos e fosfóis) para oligomerização de olefinas em meio homogêneo e bifásico. E novamente substituta (longo período sem Concursos no Brasil, era Fernando Henrique).

Fui Professora horista da UNISC, por indicação do também catalítico Celso Camilo Moro e Professora da URI-Campus de Erechim a pedido dos meus amigos (principalmente Sibele Pergher), que estavam em um curso novo e sem um Professor que tivesse formação para dar o tópico de complexos de coordenação na disciplina de Química Inorgânica. Foi meu primeiro contrato por tempo indeterminado (que emoção para a época!). Porém, tinha assumido este compromisso principalmente por eles, pois Erechim é a 500 km de Porto Alegre, meu marido já era Professor na UFRGS e minha filha era bem pequena nesta época. Neste período já tinha tido todas as bolsas que o CNPq oferecia. Fiquei 2 semestres na URI, mas o CNPq criou a DTI-D, sendo assim pude assumir uma bolsa DTI-D em uma parceria LRC/CEPPED/BRASKEM, sob supervisão do Roberto (só para variar, hahaha) e sugerir ao meu amigo catalítico Marcelo Priebe Gil para assumir a Inorgânica da URI. Após o primeiro ano da bolsa DTI-D ocorreu o sonhado concurso na UFRGS, no qual eu e o Marcelo fomos aprovados.

Na Pesquisa, para a minha felicidade, me foi atribuído espaço físico com Roberto e Michèle, no LRC, Laboratório que eu já considerava minha casa. Ao ingressar na Universidade já iniciaram as orientações, muitos alunos já me conheciam por estar há tanto tempo por lá e também vieram (e ainda vem) muitos alunos da URI fazer pós-graduação comigo. Com isso, acabei descobrindo que aquele momento que pensei que estava só ajudando meus amigos, indo trabalhar na URI, fez toda a diferença no meu atual número de orientações de Mestrado, Doutorado e de supervisões de Pós-Doutorado. Após ingressar na UFRGS como Professora tive a oportunidade de desfrutar, como colega, da experiência do Roberto em nossas discussões científicas do LRC durante 7 anos. Nesta fase, o LRC já contava com mais Professores no grupo, entre eles José Ribeiro Gregório e Emilse Martini.

A partida precoce do Roberto nos abalou muito, mas conforme já relatei no in memoriam do Roberto, encontrar os alunos no dia seguinte a sua despedida no Laboratório dizendo que estavam fazendo as reações que combinaram com o Roberto, pois certamente seria o que ele esperaria deles nos encheu de coragem para continuar. A Equipe do LRC, atualmente, conta com mais Professores. Se juntaram a nós a catalítica Elisa Coutinho e a Eletroquímica Cristiane Oliveira. Além disso temos excelentes estudantes de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, os quais tornam nosso grupo muito especial para mim!

No LRC, oriento trabalhos em desenvolvimento de novos precursores catalíticos para a oligomerização e polimerização de olefinas, síntese de materiais com porosidade controlada para serem aplicados, principalmente, como suportes. Heterogeneização de catalisadores em zeólitas, materiais mesoporosos, argilas e fibras de carbono ativo. Os catalisadores heterogeneizados são aplicados em reações catalíticas de oligomerização e polimerização de olefinas e em uma linha de pesquisa de conversão de CO2 a carbonatos cíclicos, policarbonatos, ácido fórmico e metanol. Nosso tema mais recente é a síntese e aplicação de Ni-MOFs em reações de oligomerização de olefinas. Este texto descreve parte da trajetória que me torna QUEM SOU.

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