Quem sou eu? Sinceramente, ainda não descobri e nunca parei para pensar sobre isso. Fui simplesmente seguindo o curso das águas. Nasci no Rio de Janeiro, mas não sou carioca tão da gema assim. Gosto de dias bonitos, mas não suporto calor kkk. A química entrou na minha vida por acaso pois queria fazer um segundo grau profissionalizante e perto de casa. Daí, ou cursava formação de professores (antigo normal) ou técnico em química. Como sempre gostei mais de exatas, não tenho habilidade com trabalhos manuais, escolhi a química e me identifiquei.
Foram anos intensos e de muito estudo, mas ao fazer um teste vocacional, no último ano e antes do vestibular, o resultado foi “Comunicação”. Comprei o caderno de inscrição para o vestibular unificado, preenchi para tentar comunicação e sem pensar, mas a noite acordei nervosa e chorando, não era isso que eu queria realmente e acordei meu pai que com toda calma disse que compraria outro caderno e que eu escutasse o meu coração (na verdade minha mente) e escolhesse o curso que me realizasse como profissional e me fizesse mais feliz. Escolhi Engenharia Química e foi minha irmã que achou o meu número no jornal aprovada para a UFRJ. A primeira vez que entrei no campus do Fundão me senti uma formiguinha naquela imensidão. Hoje o CT é uma extensão da minha casa e, desde 1982 acho que passei mais tempo por lá do que em casa.
Entrei no mesmo semestre que o Victor Teixeira e o Fábio Bellot mas a amizade só veio mesmo durante a pós graduação no Programa de Engenharia Química da COPPE. Fiz iniciação científica no LADEQ/EQ com o Professor Ricardo Medronho e quando ele me levou ao porão do PEQ para conhecer eu pensei com meus botões que nunca trabalharia naquele lugar. Paguei a língua e passei uma vida naquele porão e não me arrependo pois foram anos de muito conhecimento, amizade, lágrimas e alegria. Meu estágio foi realizado no INT, na área de polímeros e a catálise só entrou na minha vida durante os créditos do mestrado quando o Professor Martin Schmal, ao dar o curso de cinética, falava com paixão da catálise e convencia qualquer aluno, ainda indeciso, como era o meu caso, a seguir por esse caminho.
Quando terminamos os créditos, em 1987, ele conseguiu inscrições para irmos ao Seminário Brasileiro de Catálise, em Canela/RS. Eu e mais 3 amigos, entre eles o Bellot que já estava decidido desde sempre, topamos ir. Foi meu primeiro encontro de catálise e também paixão à primeira vista. Palestras de alto nível e em um ambiente acolhedor e familiar, mesmo com as discussões acirradas durante as apresentações. Fui integrada ao grupo do NUCAT (ainda RCA), presente no evento, mesmo sem ter uma decisão final sobre a área da minha dissertação, e começou ali as minhas sessões de fotos dos Congressos de Catálise. Voltei com a decisão tomada e apaixonada por aquele ambiente, ciência de qualidade com alegria e amizade. Claro que tem divergências, mas qual família não tem? Fiz meu mestrado na área de desativação de catalisadores de HDT sob a orientação do Professor Schmal, que me ensinou a ter persistência e paixão pelo trabalho, e pelo Professor Roger Frety, com quem aprendi que todo resultado é importante desde que compreendido e explicado. Naquela época fui convidada pelo Schmal e pelo Frety a integrar a equipe de um projeto com a Salgema, em paralelo a minha dissertação, mas em tema similar, e isso foi excelente para minha formação já que transitava entre estudos fundamentais e uma visão prática de aplicação em condições reais. Nessa época tivemos que montar uma unidade do zero e tive a ajuda do Químico Antonio Jose de Almeida (Macarrão) que foi essencial para o desenvolvimento da minha tese e do projeto e nasceu aí uma parceria de trabalho que dura até hoje, além de toda a equipe do NUCAT, fundamental para o sucesso de qualquer trabalho do grupo. Terminei o mestrado e iniciei o doutorado em seguida, sob a orientação do Professor Schmal e agora na área de catálise ambiental. Novamente, desenvolvi minha tese e em paralelo fiz parte da equipe de projetos na área ambiental.
Essa rotina sempre com adrenalina lá em cima foi um desafio e apaixonante, apesar de muitas vezes desgastante. Como nunca fui de programar as coisas, mas seguir o curso das águas, assim que terminei o doutorado Schmal me convidou para continuar trabalhando com ele nos projetos. Inicialmente como bolsista e depois fui contratada como pesquisadora pela Fundação Coppetec. Foram mais de 20 anos de parceria tanto em projetos como na orientação de alunos. Trabalho produtivo e, também, com divergências que fazem parte do crescimento pessoal de todo ser humano. Como pesquisadora continuei a pareceria com o Victor Teixeira (meu amigo e irmão de coração) também em diversos projetos e dividindo algumas orientações. Por focar minha história profissional em projetos Universidade/Empresa transitei por várias áreas como HDT, Catálise ambiental, produção de hidrogênio, polimerização, desativação de catalisadores FCC, controle de emissões DeNOx/DeSOx e Fischer-Tropsch (que caiu de paraquedas nos meus ombros e se tornou mais uma paixão).
Trabalhar em projetos com foco nos testes de avaliação me fez permanecer quase que a totalidade do tempo nos laboratórios do NUCAT e, como consequência natural, acabei auxiliando em várias teses, mesmo as que eu não tinha uma pareceria direta. Essa troca foi fundamental para o meu crescimento profissional e, principalmente, como ser humano. Ajudei e aprendi muito. Como não existia a barreira formal de hierarquia a troca de experiências fluía naturalmente. São tantas pessoas que passaram por ali que eu seria injusta em citar nomes pois esqueceria alguns. Tenho amigos de verdade de todas as idades e gerações diferentes e como é bom encontrá-los nos congressos da vida e sentir que a amizade ainda é a mesma. Além dos laboratórios, a copa é um local fundamental para o desenvolvimento de qualquer trabalho. Durante um simples café a gente muda uma tese, discute resultados, chora, ri, levanta o astral e continua a jornada. Tenho carinho por todos os que passaram e os que continuam fazendo parte da minha vida. Fui madrinha de casamentos, testemunha de romances, madrinha de batismo (Nathalie já está uma moça linda e é meu orgulho). Ciência de qualidade em um ambiente familiar. Isso é que me dá força para continuar, mesmo diante de adversidades. Com o falecimento precoce do Victor, uma pessoa foi fundamental para eu continuar minha jornada, foi a professora Lídia Chaloub (obrigada de coração pelos conselhos em um momento tão delicado) e segui minha jornada junto com a Professora Vera Martins Salim, que o tempo e as circunstâncias estreitaram os laços profissionais e de amizade. Tenho muito orgulho de pertencer ao grupo do NUCAT e ao ver, atualmente, novas lideranças despontando, me dá a certeza da continuidade de um trabalho fecundo, conjunto e de muito sucesso.
Após aquele primeiro Seminário de Catálise em 1987 eu passei a tirar fotos em todas as edições posteriores e acho que muita gente me conhece como a fotógrafa ‘louca” contatada pela SBCat que fica tirando foto das mesas e que a grande maioria nunca tem acesso. Passei a integrar a Sociedade mais efetivamente quando o Professor Dilson Cardoso me convidou para assumir a subsecretaria de comunicação. A ideia dele era movimentar a sociedade com boletins periódicos. Como tudo era muito limitado na época eu consegui colocar a logo no corpo do meu e-mail e assim nasceu o Informativo SBCat. Muita coisa mudou, novas diretorias, mas eu continuava lá com os Informativos SBCat. Em 2011, Marco Fraga me convidou para compor uma chapa para a regional 2 como secretária de cursos, publicações, informativos e eventos. Trabalhamos juntos por 2 mandatos, junto com Fátima Zotin, Lisiane e Morgado voltamos a promover cursos e colocamos a regional nas redes sociais, criando a página no facebook. Continuei na regional até 2019, agora sob a supervisão do Claudio Mota, quando a Sibele me convidou para integrar a chapa da SBCat em 2019, representando a regional 2. Aceitei, inicialmente, como uma homenagem ao Victor mas a o que seria uma parceria profissional se tornou uma grande amizade. Hoje somos um quarteto (Sibele, Katia, Cris e eu), ou melhor, um quinteto porque Lu é nosso braço direito e esquerdo kkk, de amigas que vibram com cada postagem ou evento da Sociedade. Professor Dilson não sei se é isso que você imaginou, mas sempre lembro de você quando movimentamos a página e as redes sociais.
Quem sou eu? Sou a Maria para o pessoal da padaria e do telemarketing, sou Auxiliadora para minha mãe, Dora ou Dorinha para os amigos e familiares, M. A. S. Baldanza nos artigos, a doida que tira fotos nos CBCats e vai de mesa em mesa mesmo sem conhecer algumas pessoas kkk, sou alguém ainda pelo caminho ensinando e aprendendo para um dia, quem sabe, encontrar essa resposta.
Um dica: façam tudo na vida, mesmo as mais trabalhosas e rotineiras, com paixão.
Termino com trechos do poema “A idade de ser feliz” que mostra como estou encarando a vida atualmente.
Existe somente uma idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos
Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazerEssa idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se presente,
e tem apenas a duração do instante que passa ...
... doce pássaro do aqui e agora
que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!
Geraldo Eustáquio de Souza