Accessibility Tools

25 01 SBCAT ClaudioJAMota NotíciaNatural do Rio de Janeiro, cursei o ensino médio em colégios públicos do interior, quando descobri meu amor pela Química e decidi prestar vestibular para Engenharia Química, sendo aprovado para cursar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que considero meu primeiro grande feito profissional.

Minha inclinação para a pesquisa começou no 5o período do curso, quando comecei a Iniciação Científica no Instituto de Química na área de mecanismos de reação. O Mestrado foi, também, cursado no IQ-UFRJ, dando prosseguimento aos estudos sobre mecanismos de reação.

Ingressei por concurso no CENPES-PETROBRAS, para uma vaga na área de catálise, onde permaneci por 11 anos. Minha formação em catálise se deu no ambiente do CENPES, convivendo com diversos profissionais renomados da área, tanto do país como do exterior. Após finalizar meu Mestrado, decidi continuar os estudos de Doutorado, ainda no IQ-UFRJ, mas com tese focada em catálise. O trabalho de tese versou sobre estudos pioneiros sobre o mecanismo de formação de carbocátions sobre zeólitas, tendo publicado meus primeiros artigos internacionais nesta época. Estes estudos levaram, também, a colaborações internacionais e foram um passaporte de transição entre a físico-química orgânica, base de minha formação na Iniciação Científica e Mestrado, para a catálise, área que escolhi para minha atuação profissional.

Ainda na época do CENPES comecei a participar do Programa CYTED, que envolvia a colaboração científica entre os países ibero-americanos. Atuei como ponto focal em catálise computacional por cerca de 10 anos, onde fiz diversas colaborações, uma delas com o Prof. Alejandro Ramirez, do México, e que rendeu o Prêmio TWAS outorgado pela Academia Mexicana de Ciências ao melhor trabalho de colaboração internacional.

Em 1997 iniciei minhas atividades acadêmicas como professor concursado do Instituto de Química da UFRJ, dando início ao meu atual grupo de pesquisa (https://larhco.iq.ufrj.br/). Na Universidade, pude ampliar a área de atuação em catálise e estabelecer novas parcerias de pesquisa, tanto no Brasil como no exterior. Os primeiros anos foram focados na continuação das pesquisas sobre mecanismos de reação sobre zeólitas que realizava no CENPES. Também atuei no desenvolvimento de catalisadores para craqueamento, alquilação e conversão de gás natural, com financiamento de empresas, e que ajudaram a montar o parque de equipamentos e infraestrutura do grupo. Gradativamente percebi que o futuro apontava para a sustentabilidade e comecei a atuar em conversão de biomassa, sobretudo a glicerina oriunda da produção de biodiesel.

As pesquisas sobre conversão de glicerol logo se tornaram referências em todo o mundo, destacando-se o desenvolvimento de aditivos para combustíveis e um catalisador para a hidrogenólise seletiva de glicerol a propeno. Este último estudo foi realizado em parceria com uma petroquímica brasileira, tendo sido pioneiro em todo o mundo. Além dos diversos artigos científicos publicados e patentes depositadas, foi publicado um livro internacional, que é referência no tema: “Glycerol: A Renewable Feedstock for the Chemical Industry”. Os trabalhos em química do glicerol me agraciaram com o Prêmio ABIQUIM de Tecnologia e o Prêmio Fernando Galembeck de Inovação da SBQ.

Outros estudos sobre conversão de biomassa envolvem o desenvolvimento de catalisadores heterogêneos básicos para produção de biodiesel e condensação de furfural, catalisadores zeolíticos para conversão de etanol e catalisadores para conversão direta de açúcares em ácido levulínico e levulinatos.

Dando um passo ainda maior rumo à sustentabilidade, iniciei a cerca de 12 anos atrás pesquisas sobre conversão catalítica de CO2. Desenvolvemos estudos sobre hidrogenação de CO2 a metanol, dimetil éter (DME) e hidrocarbonetos, sobretudo olefinas leves, buscando catalisadores mais ativos e seletivos. Também realizamos estudos sobre a produção de carbonatos orgânicos, tanto via reação de CO2 com álcoois como com epóxidos. Os desafios nesta área são enormes, muitas vezes não se restringindo ao desenvolvimento do catalisador apenas, mas também de estratégias para deslocar o equilíbrio reacional. Recentemente, iniciamos estudos sobre captura de CO2 por adsorventes básicos, oriundos de biomassa. As pesquisas têm sido conduzidas com financiamento de empresas da área de petróleo e petroquímica e de agências de fomento, inclusive através de uma parceria com a Universidade de York, que conta com recursos da Royal Society, do Reino Unido.

Participei da diretoria da SBCat, como tesoureiro, na gestão 2003-2005. Fui, também, coordenador da Regional 2 em dois mandatos, de 2015 a 2019. Fui presidente da Comissão Científica do 12o Congresso Brasileiro de Catálise, em 2003, e da 16a Conferência Internacional de Zeólitas, realizada no Rio de Janeiro em 2016. Também tive a oportunidade de organizar, com a chancela da SBCat, o 17o Simpósio Internacional de Catálise Ácido-Base, em 2017, e a 16a Conferência Internacional de Utilização de Dióxido de Carbono, em 2018. A organização destes eventos internacionais foi muito gratificante, pois permitiu trazer ao Brasil importantes cientistas da área, que certamente motivaram muitos estudantes com suas palestras e trabalhos.

Tenho na catálise minha grande motivação profissional; com a possibilidade não só de fazer ciência e publicar artigos, mas, sobretudo, fazer esta importante ligação entre a academia e a indústria, já que muitos dos desenvolvimentos de laboratório podem se tornar processos industriais. A catálise é a ponte entre a ciência e a tecnologia, entre o artigo científico e a patente, entre a pesquisa fundamental e a aplicação industrial.

18 01 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaMeu interesse pela química vem da infância, certamente ajudado pelos kits de química então disponíveis em lojas de brinquedos. O sonho infantil começou a se concretizar quando ingressei no curso Química na Universidade Estadual de Campinas em 1982. No terceiro ano do curso, busquei uma oportunidade de iniciação científica com o Prof. Ulf Schuchardt, que, apesar de estar com o laboratório cheio, resolveu me acolher. Me apresentou ao Professor Francisco Santos Dias da UFC, então estudante de doutorado do grupo, que me ensinou as técnicas básicas necessárias para o trabalho em catálise homogênea. Após ingressar no mestrado, o Professor Ulf me ofereceu uma oportunidade muito rara na época: um estágio na França, no Laboratoire de Chimie de Coordinacion -CNRS, sob a orientação dos Doutores I. Tkatchenko e D. Neibecker. A viagem foi apoiada pelo Programa Nacional de Catálise (PRONAC) e essa experiência internacional de três meses foi decisiva para ampliar meus horizontes científicos. Após o doutorado, usufrui por um ano de uma novidade à época: a bolsa de recém-doutor do CNPq, estágio que foi feito no laboratório da Profa. Maria Vargas na UNICAMP.

Fiz ainda um estágio curto nos Estados Unidos nos laboratórios do Prof. C. U. Pittman, Jr. na Mississippi State University, onde aprendi como fazer hidroformilação, que é até hoje um tema de pesquisa bastante importante em nosso grupo. Em 1993 ingressei como Professor Adjunto no Departamento de Química-ICEx da Universidade Federal de Minas Gerais, onde tive forte apoio do Prof. Carlos Filgueiras e de outros colegas para iniciar um grupo de catálise. Um ano depois, conheci a Profa. Elena Gusevskaya, então pesquisadora visitante do Instituto de Química-USP. Sabendo que ela buscava uma posição permanente, a convidei para um seminário no nosso departamento. Tempos depois, ela se juntou ao departamento como professora e desde então somos parceiros no Grupo de Catálise Organometálica da UFMG. Ainda no início da carreira, participei como vice-diretor e em seguida como primeiro diretor eleito da recém-criada Divisão de Catálise da Sociedade Brasileira de Química.

Por indicação dos Professores Roberto de Souza e Martin Schmal, participei também do Grupo Técnico do IBP para a criação da Sociedade Brasileira de Catálise e orgulho-me de ter contribuído para que as duas entidades convivessem harmonicamente. Em 1997, o Prof. Jairton Dupont me indicou para participar da Red CYTED de catálise homogênea, o que alavancou a formação de uma sólida rede de contatos internacionais. Tivemos ou temos colaborações com grupos de da Venezuela, Colômbia, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Japão, EUA e Canadá. Em 2009, o saudoso Prof. Faruk Nome me convidou para integrar o INCT-Catálise, do qual faço parte do Comitê Gestor, e que teve influencia significativa no desenvolvimento de nossas pesquisas.

Tive várias parcerias com indústrias que foram muito enriquecedoras e contribuíram não só para a montagem da infraestrutura laboratorial como também para aprender aspectos importantes de processos industriais e permitindo transmitir esta experiência aos alunos. Destaco a parceria com a PETROBRAS, com o Prof. Eduardo Falabella que contribuiu com um projeto de infraestrutura para o nosso laboratório e com os Doutores Carlos R. C. Rabelo e Marlito G. Júnior com quem desenvolvi vários projetos. Não posso falar de minha carreira sem agradecer aos alunos de iniciação científica, de mestrado, de doutorado e estagiários de pós-doutorado com quem tive o privilégio de trabalhar. Sem a oportunidade de nomeá-los aqui, deixo os meus agradecimentos pela sua grande contribuição ao desenvolvimento da nossa pesquisa.

21 12 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaA opção pela Engenharia Química se deu, sobretudo, pela forte sedução exercida sobre o jovem niteroiense que cursava o secundário no Instituto Abel (“rival” do Salesianos, do Leonardo) pela propaganda da Petrobrás no rádio (a televisão engatinhava no Brasil) no início dos anos 60: “Petrobrás: capital, trabalho e técnica nacionais a serviço do Brasil .... e dos  brasileiros”. Trabalhar na Petrobrás era o meu projeto de vida profissional. E o primeiro passo foi dado quando iniciei minha graduação na Escola de Química em 1967. Tempos difíceis no Brasil nesta e na década seguinte, sobretudo para os setores ligados à cultura. Paradoxalmente, o isolamento internacional do Brasil e as políticas de substituição de importações, desenvolvimento de tecnologia nacional e outras abraçadas pelos governantes de então, mostraram-se muito estimulantes para os setores da ciência que pudessem contribuir para esse projeto. Quando a Coppe deixou as modestas instalações da Praia Vermelha e se mudou para a Ilha do Fundão, em 1967, o Programa de Engenharia Química (PEQ) deu uma guinada nas suas linhas de pesquisa, consideradas teóricas até então, e passou a investir em trabalhos de natureza experimental. E essa perspectiva me atraiu e me fez aceitar o convite dos saudosos Giulio Massarani e Carlos Augusto Perlingeiro para lá desenvolver um trabalho de iniciação científica com carvão sob orientação de Arlindo de Almeida Rocha que, logo depois, ao partir para o doutorado em Stanford, me deixou de “herança” para Maury Saddy,  recentemente retornado de seu doutorado em Londres (Imperial College). Arlindo, Carlos Russo e Saddy foram pioneiros na ocupação do sub-solo do bloco I do Centro de Tecnologia, onde construíram, no final da década de 60, os primeiros e precários laboratórios próprios do PEQ, que até então ocupava áreas cedidas por outros. Nascia ali o Grupo de Reatores e Cinética Aplicada (RCA), mais tarde Grupo de Cinética e Catálise, embrião do que seria, duas décadas depois, o Núcleo de Catálise (Nucat). Foi essa troca de orientador de IC que me permitiu ter o primeiro contato com a catálise, quando Saddy me pediu para auxiliar seu orientado Saul D’Ávila nos experimentos finais de sua tese de doutorado, intitulada “Oxidação Catalítica de Crotonaldeído a Anidrido Maleico”, assunto de interesse da Rhodia. A tese de Saul, defendida em 1971, foi a segunda tese de doutorado da Coppe, a terceira em engenharia no Brasil (a primeira foi no ITA) e a primeira de doutorado da engenharia química e, salvo alguma falha documental, da catálise heterogênea brasileiras. E eu recebi meu batismo de fogo na catálise.

NOVOS CAMINHOS

Mas, apesar de seu pioneirismo no meio acadêmico do Rio de Janeiro, onde trabalhos iniciais em catálise começavam também a ser desenvolvidos nas modestas instalações do Cenpes ainda na Praia Vermelha, a tese de Saul se mostrou um esforço pontual e sem continuidade, já que nem ele nem Saddy, como de certa forma já ocorrera com Ciola em São Paulo, não fizeram da catálise o foco de suas carreiras.  O trabalho em catálise nas universidades brasileiras e no PEQ, em particular, só deslanchou realmente quando, no início da década de 70, tendo retornado de seu doutorado na Alemanha, Schmal , que, como quase todos os outros pioneiros (Leonardo Nogueira parece ser a única exceção) não tinha formação em catálise, decidiu dedicar sua vida profissional a essa ciência. E eu, nesse momento, também havia me afastado da catálise, envolto com meu mestrado e meu doutorado, ambos sob orientação de Saddy e ligados ao estudo da cinética das reações gás-sólido. E aí quase que a Petrobrás entrou na minha vida. Tendo iniciado meu doutorado em 1974, fui, neste ano, convidado a participar do processo seletivo para ingresso no Cenpes, que buscava se expandir nas suas novas instalações na Ilha do Fundão/Cidade Universitária, para onde havia se mudado no ano anterior (a seleção para o Cenpes, naquele momento, foi um processo direto, independente dos concursos da Petrobrás).  Nessa época, sob a liderança de Leonardo Nogueira, a catálise ia aos poucos se firmando no Cenpes, o que culminou com a criação da Divisão de Catálise (Dicat) em 78. Quando eu já estava com um pé na Petrobrás, a ponto de realizar meu sonho da adolescência, fui convidado pelo PEQ para integrar seu corpo docente e decidi abraçar a carreira acadêmica. Mas a catálise viria a me reaproximar em futuro próximo da Petrobrás e do Cenpes.  A minha tese de doutorado se arrastou por seis longos anos, como ocorreu com todos os outros jovens docentes do PEQ naquela época, envolvidos que fomos nas atividades acadêmicas, administrativas e de consolidação dos laboratórios, em um momento particularmente difícil da vida da Coppe, após o afastamento de seu fundador, Coimbra, em 1973. Defendido o doutorado em 1980, fui como visitante para a University of Cambridge (UK), de onde voltei no ano seguinte.

A CONSOLIDAÇÃO

 Ao contrário do refino, na prática um monopólio da Petrobrás, a petroquímica envolvia um grande número de empresas que se instalaram nos chamados polos petroquímicos, a partir do modelo tripartite: uma empresa estatal (Petroquisa), uma empresa privada nacional e um sócio estrangeiro que aportava capital e  tecnologia própria. Mas logo ficou claro para essas empresas que, uma vez dominada a tecnologia, do ponto de vista operacional, que a total dependência do sócio estrangeiro quanto a futuros desenvolvimentos era uma limitação séria. E elas se aproximaram das universidades em busca de apoio para o entendimento e domínio dos processos catalíticos que praticavam. E então o trabalho desenvolvido por Schmal, sobretudo junto às indústrias de Camaçari, começou a render frutos. E eu passei gradativamente a me envolver cada vez mais com a catálise, que se firmava no cenário acadêmico e industrial brasileiro a partir de iniciativas (já citadas por outros) como o PRONAC, a Comissão de Catálise do IBP, o Seminário Brasileiro de Catálise, etc. E me apaixonei pelas zeólitas, e sua estrutura porosa desafiadora, quando em 1984 coordenei o projeto “Desproporcionamento de Tolueno” para a Copene (onde Marco Ebert e Fernando Lira, já citados pelo Luiz Pontes, se destacavam pelo seu entusiasmo). O projeto para a Copene foi o ponto de partida para as teses de mestrado de José Geraldo Pacheco Filho (em coorientação com o Schmal) e de Carlos Albert Krahl. A tese do José Geraldo, defendida em 1986, foi, aparentemente, a primeira tese com zeólitas desenvolvida no Brasil e que gerou o primeiro artigo brasileiro sobre zeólitas a ser publicado em revista de circulação internacional (Catalysis Today), em 1989. Da mesma forma, a tese de doutorado de Stella Regina Reis da Costa, defendida em 1991 (novamente com orientação partilhada com Schmal), parece ter sido a primeira com zeólitas no Brasil. A orientação da tese da Stella me levou em 1988 a um período de três meses como visitante no Institut  de Recherche sur la Catalyse (Lyon), onde ela desenvolvia  parte da caracterização das zeólitas usadas na sua tese, e na Université de Poitiers (Poitiers), ambos na França. Nessas instituições tive a oportunidade de conhecer de perto algumas técnicas ainda indisponíveis no Brasil e conviver com pesquisadores experientes como Jacques Védrine, Claude Nacache e Michel Guisnet, dentre outros. Ao longo da década de 90 o meu trabalho com zeólitas se consolidou, sobretudo a partir da criação do Nucat e da interação com o Cenpes e sua equipe altamente qualificada, cujo apoio com as técnicas analíticas foi decisiva. E deu origem a uma colaboração extremamente gratificante e a uma sólida amizade com Eduardo Falabella Sousa-Aguiar. Mas minha carreira científica não teria me trazido tantas alegrias se não fosse a parceria com Cristiane Assumpção Henriques. Ao mesmo tempo, novas linhas foram exploradas, como a catálise básica, os materiais mesoporosos, a Química Fina e outros, sem abandonar os estudos cinéticos.

CONCLUSÃO

Trabalhos em colaboração foram sempre uma constante ao longo da minha carreira. Enquanto nas empresas a norma é o trabalho em equipe, presente até nos processos seletivos, o ambiente acadêmico muitas vezes estimula o individualismo e a busca por protagonismo. É com satisfação que sempre que examino minha produção científica observo que as parcerias estão presentes na grande maioria das publicações. Por isso optei por citar nomes ao fazer esse relato, mesmo ciente do risco de omissões e imprecisões, que poderão ser corrigidas por outros depoimentos. A partir do início da década de 2000 me afastei progressivamente do ambiente acadêmico e me envolvi com a atividade administrativa da UFRJ (até me aposentar em 2007), quando tive o privilégio de ocupar o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa por 5 anos(o que me levou à presidência do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa) e de Reitor em exercício por dois períodos de três meses (num desses períodos fui anfitrião do então presidente Lula quando de sua visita à UFRJ). Hoje, cerca de 15 anos após ter deixado minhas atividades científicas e buscado novos caminhos,  é com inegável satisfação que quase toda semana recebo uma notificação de meus trabalhos sendo citados por outros autores na literatura internacional. Finalmente, mas não menos importante, a carreira acadêmica me permitiu participar da formação de um contingente de profissionais brilhantes (foram 41 teses de mestrado e 14 de doutorado orientadas) que se transformaram em amigos sinceros.

Valeu a pena.

11 01 SBCAT NotíciaFinal de 1986, trabalho há mais de 3 anos na Petrobras em regime de embarque como técnico químico, nome de guerra Morgado. Recém graduado pelo Instituto de Química da UFRJ, sonho trabalhar como pesquisador na Cia. Desembarco em Macaé num domingo e no escritório me deparo com edital de concurso para pesquisador no CENPES. A inscrição é até o dia seguinte e o exame no domingo próximo; no ato da inscrição é preciso eleger uma de 4 áreas: refino, petroquímica, lubrificantes ou catálise. Não tinha preferência, trabalhava na produção de petróleo e com nenhuma delas tinha familiaridade, mas aquela última me desperta a curiosidade.

Como a catálise se tornara uma disciplina destacada para a Petrobras? Decido visitar o CENPES e encontro Claudio Mota, hoje professor da UFRJ reconhecido membro desta comunidade, que me conta um pouco mais da Catálise e sua importância para a empresa e ainda me recomenda um livro básico: “Principles of Catalysis” de G.C. Bond. Saio dali convencido da minha opção e faço a inscrição. Estudo o livreto em cinco dias e sou aprovado na prova escrita. Leio ainda alguns manuais editados pelo IBP que me posicionam sobre a situação da Catálise no Brasil e me ajudam na entrevista que se segue e da qual saio selecionado pela banca em que estavam os doutores Leonardo Nogueira e Arnaldo Faro, que dispensam apresentação.

Em Jan/1987 sou admitido na Divisão de Catalisadores do CENPES (DICAT) como Químico de Petróleo. Sou recebido no grupo de aluminas por meus mentores Cecília Figueiredo e Gustavo Moure, hoje amigos queridos a quem devo amplo apoio e orientação no início da carreira de pesqisador. Neste grupo participo do desenvolvimento de aluminas para vários fins catalíticos na indústria de refino e petroquímica. Me especializo em aluminas para catalisador de FCC, com patentes na área, responsável pela implantação industrial de várias delas para aplicação do respectivo catalisador em refinarias da Petrobras. Em 1989, participo da partida da Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC SA) ao lado dos colegas do CENPES como Oscar Chamberlain, Marlon Almeida e do destacado Dr. Eduardo Falabella, experiência extraordinária a partir da qual pude ampliar meu conhecimento das tecnologias de preparo de catalisadores de FCC desde a escala de bancada até a industrial, estreitando laços com pesquisadores de nossa parceria com a AKZO NOBEL na Holanda e EUA.

Orientado pelo honorável Dr. Yiu Lau Lam e incentivado pelo saudoso Professor Octavio Antunes do IQ/UFRJ, inicio meu mestrado em 1992 e defendo em 1995 a primeira tese de pós-graduação do recém-criado programa de Química Inorgânica, de cuja banca participa o professor Dilson Cardoso, mais uma referência na minha rede em Catálise. O mestrado gera dois artigos sobre a síntese e caracterização de precursores coloidais de aluminas, com ênfase na elucidação das espécies por RMN 27Al, conhecimento aplicado no desenvolvimento de aluminas ligantes dentro da parceria Petrobras-Akzo, mais tarde rendendo capítulo de livro “NMR studies of Colloidal Oxides”, em co-autoria com Sonia Menezes e Carlos Pacheco. Logo após o mestrado, motivado pela necessidade da Petrobras processar cargas mais pesadas em suas refinarias, inicio um projeto visando ao incremento da porosidade de nossos catalisadores de FCC; em apenas 2 anos nasce uma nova tecnologia “PRA”, patenteada e implantada industrialmente na FCC S.A. Em 1998, o novo catalisador é testado com sucesso em refinaria e seu uso se estende para várias outras unidades de FCC no Brasil e América do Sul por mais de 10 anos, tendo sido produzidas mais de 90.000 toneladas e nesse período proporcionado considerável ganho de rentabilidade para a Petrobras. A inovação recebe menção honrosa no XXVI Prêmio Governador do Estado de São Paulo em 2000 e o prêmio de Inovação Tecnológica na categoria Produto, concedido pela FINEP em 2003.

No 12º Congresso Brasileiro de Catálise, sou convidado pelo Professor Antonio Araújo para um Doutorado no Departamento de Química da UFRN e sob sua orientação inicio em 2004 minha segunda pós-graduação, no mesmo ano que sou promovido a Consultor Sênior na Petrobras. Em 2007, torno-me doutor em Química após defesa de tese sobre titanatos nanoestruturados, o que robustece meu conhecimento em nanotecnologia e fotocatálise e rende a publicação de 4 artigos internacionais em apenas dois anos, que hoje acumulam mais de 500 citações (base Scopus). Foram ainda depositadas duas patentes pela Petrobras e publicados vários outros artigos derivados em parceria com o grupo do Professor Bojan Marincovic na PUC-Rio, com quem co-oriento vários alunos de PG. A partir dessa época se intensifica minha relação com a comunidade, particularmente com grupos da Rede de Catálise na região Sudeste e no Norte e Nordeste (RECAT), participando de várias bancas examinadoras e auxiliando o Dr. Lam a gerenciar o recurso da participação obrigatória ANP com foco na implantação de técnicas avançadas de caracterização de catalisadores, quando atuo como interlocutor técnico em diversos termos de cooperação. Aumenta exponencialmente minha demanda para revisão de manuscritos em periódicos internacionais na área de Ciência de Materiais.

Em 2011 sou convidado pelo Dr. Marco Fraga do INT a compor a Diretoria da Regional 2 da SBCat como representante da indústria, atuando no biênio 2011-2013. Concomitante às atividades na Petrobras, entre 2014 e 2019 tenho a honra de co-orientar duas teses de mestrado sobre contaminação de catalisador de FCC por metais com a professora Cristiane Henriques na UERJ, envolvendo alunos da indústria (FCC S.A), e sobre o mesmo assunto em 2018-2019 tenho publicado dois artigos no Applied Catalysis em co-autoria com o Dr. Klaus Krambrock da UFMG. No final de 2018, começo na Petrobras nova fase profissional deixando o grupo de FCC. Passo a dividir a coordenação de uma carteira de projetos transversais que inclui quase 20 termos de cooperação na área de Catálise e o desafio de me transferir para a área de Energia Renovável do CENPES para coordenar um projeto de células fotovoltaicas de 3ª geração, liderando uma parceria com o CSEM Brasil em BH para o desenvolvimento de células solares a base de perovskita híbrida. Às vésperas de me aposentar da Petrobras, essa é uma ótima oportunidade de contar minha história. Pretendo manter futuras colaborações com membros desta sociedade, por quem nutro grande estima, visando ainda contribuir para o desenvolvimento da Catálise no País.

14 12 SBCAT PauloGustavo NotíciaOs meus primeiros contatos com a pesquisa ocorreram quando trabalhei entre 1977 e 1979, como Analista do Centro de Pesquisas da Petrobrás - CENPES. Esse período, foi fundamental para o meu engajamento na carreira científica.

Ao ingressar no Instituto Nacional de Tecnologia - INT, em 1985, com mestrado obtido em 1984 no Instituto Militar de Engenharia - IME, fui designado para a Unidade de Programas em Alcoolquímica, que à época estava iniciando estudos sobre catalisadores voltados à oxidação do etanol. Nos anos seguintes, a Direção do INT incentivou a realização de cursos de pós-graduação. Desta forma, em 1987, retomei os meus estudos no IME, na modalidade de “doutorado sanduiche” em catálise, em parceria no exterior com o Institut de Recherches sur la Catalyse - IRC – França, entre outubro de 1988 e outubro de 1989. A defesa de tese ocorreu em 1990, no IME, tendo como orientador no Brasil o Professor Jean-Guillaume Eon e na França o Dr. Jean-Claude Volta. Não posso deixar de registrar aqui, o apoio recebido do Professor Roger Fréty, durante a minha permanência naquele país.

De retorno ao INT, em 1990, a Unidade de Programas em Alcoolquímica passa a se chamar Divisão de Catálise para a qual eu fui convidado para chefiá-la, permanecendo neste cargo entre 1991 e 2004. Em 1991, o INT assina um contrato de cooperação internacional com o IRC.
Como estágios de aperfeiçoamento e missões que realizai após o meu doutorado, destaco em 1992, 1994 e em 2006 no IRC dando continuidade aos estudos de dopagem de estruturas VPO por nióbio e aos estudos de catalisadores heterogêneos aplicados à transesterificação de óleos vegetais, em parceria com a Dra. Nadine Essayem. Em 2000, na Universidade de Caen, sob a supervisão do professor Marco Daturi e na Universidade de Lille sob a supervisão do professor Edmond Payen, ambos sobre a aplicação de técnicas espectroscópicas à catálise. Missões de pesquisadores do IRC ao INT foram igualmente realizadas neste período como a do Dr. Jean Claude Volta na área de catalisadores de oxidação e a do Dr. Stefano Caldarelli, na área de espectroscopia. Em 2001, integrei missão ao Exterior conjunta com o Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, para participar a IV Semana Internacional de Indústrias de Alta Tecnologia em Beijing na China e em 2007 integrei missão à Intendência de Paysandu no Uruguai, visando firmar acordo de cooperação em bioenergia.

Participei igualmente de atividades acadêmicas, a convite da Professora Wilma de Araújo Gonzalez, como professor - colaborador no IME, ministrando a disciplina de Catálise de Oxidação e orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado, em projetos cooperativos com o INT, tendo sido em 2005 agraciado com o título de Amigo do IME.

Entre 2007 e 2017, fui convidado a atuar como Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico do INT, integrando a Direção da Instituição e tendo sob a minha supervisão as áreas e Catálise, Química, Materiais e Design. Neste período foram consolidadas as atividades em Nanotecnologia no INT, com a inauguração do Centro que Caracterização em Nanotecnologia em Materiais e Catálise (CENANO) em 2010, alcançando o patamar de Laboratório Estratégico do SisNANO (Sistema Nacional de Nanotecnologia) do MCTI.

Atualmente, como pesquisador da Divisão de Catálise e Processos Químicos do INT, desenvolvo estudos voltados à desidrogenação oxidativa (ODH) do propano.

Todas essas missões, oportunidades e realizações, foram decorrentes direta ou indiretamente da minha formação em catálise. Posso a firmar que valeu a pena. Às novas gerações ficam aqui essas palavras de incentivo: ¨ Dificuldades sempre existirão, mas tenho certeza que unidos sob as lideranças atuais de nossa comunidade científica, saberemos transpô-las, como assim souberam os pioneiros da construção da catálise no Brasil ¨

Topo