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Nasci em Resende, no interior do Rio de Janeiro, em uma família simples que, até então, tinha pouco acesso à educação formal. Os primeiros anos não foram fáceis, mas sem dúvida foram alegres e forjaram os valores que me orientam até hoje.
Devido ao grande esforço de minha mãe, D. Marlene Fraga, pude frequentar a escola desde muito cedo. ‘O estudo é o único caminho para um futuro melhor’, dizia ela repetidamente. Trilhando esse caminho, em 1989 me tornei o primeiro de minha família a chegar ao ensino superior. Muito jovem, com apenas 16 anos, deixei minha cidade para fazer Engenharia Química. Lá ia eu para Lorena com minha mochila nas costas e muitos sonhos na cabeça. Aqueles cinco anos foram incríveis!
Nos dois últimos anos de graduação ingressei no programa de estágio das Indústrias Químicas Resende, na época, uma joint-venture entre a Ciba-Geigy e a Sandoz, que mais tarde se fundiram na Novartis. Nesse tempo aprendi muito sobre os processos químicos industriais envolvidos na produção de fármacos. Foi ali vi que muitos processos eram catalíticos, que o papel dos catalisadores era fundamental. Ao término do estágio e com a proximidade da formatura, já sabia que o que me seduzia eram as perguntas. O sonho da infância de ser um cientista era mais forte e eu sabia que precisava seguir em frente.
Cheguei em Campinas em 1994 determinado a estudar Catálise. No departamento da Faculdade de Engenharia Química, no entanto, nem todos os professores podiam oferecer temas de dissertação em todos os períodos. Era preciso aguardar o fim do primeiro período para então saber quais seriam as possibilidades de projeto e orientação. Para minha felicidade, a profa. Elizabete Jordão ofereceu um tema naquele ano, envolvendo o desenvolvimento de catalisadores para produção de álcoois superiores e me empenhei muito para ser o selecionado para o projeto. Iniciava minha caminhada na Catálise no Laboratório de Desenvolvimento de Processos Catalíticos da UNICAMP.
Seguindo para o doutorado em 1996, quis estudar processos com moléculas mais complexas, mais próximas àquelas transformações que tive contato durante o estágio de graduação. Com o apoio da Bete, e agora em parceria com o saudoso prof. Mário Mendes, discutimos os catalisadores e suas formulações. Usar carvão ativado nos parecia um bom caminho, principalmente pela possibilidade de modificações em sua superfície. Por incentivo e articulação do prof. Mendes, fui para um estágio doutoral no Laboratório de Catálise e Materiais da Universidade do Porto em Portugal sob a supervisão do prof. José Luís Figueiredo. Lá tudo o que se fazia dizia respeito a materiais de carbono: carvão ativado, fibras, filamentos e, já então, nanotubos. Naquela ocasião, o grupo se empenhava em entender a superfície de carvões e pude assistir aos passos que levaram à proposição de metodologias onde os grupos oxigenados podiam agora ser descritos de forma assertiva. Que sorte a minha estar ali naquele período! Meus colegas de laboratório eram fantásticos! Um comprometimento e uma generosidade que me servem de exemplo até hoje. Felizmente o tempo permitiu que a amizade seguisse firme e se fortalecesse ao longo de todos esses anos, me dando o prazer de termos ainda parcerias de trabalho.
Com a proximidade do término do doutorado, já de volta ao Brasil, li um e-mail enviado pela lista da RBCat sobre uma oportunidade para recém-doutores no Rio de Janeiro. Enviei minha candidatura e, semanas depois, seguia para o Rio para uma entrevista. Foi nesse dia que entrei pela primeira vez no Instituto Nacional de Tecnologia – INT. E nem conhecer o Rio eu conhecia, acreditem!
Em maio de 2000 iniciei em um projeto de pesquisa no INT sob supervisão da Dra. Lucia Appel. Era o começo de um período mais promissor de investimentos no país com os fundos setoriais. Dois anos depois, fui admitido como pesquisador após concurso público e no INT venho construindo minha carreira. Ao entrar, assumi a chefia do Laboratório de Catálise, permanecendo nessa função até 2008. Esse foi um período de grandes transformações no laboratório. Com um robusto financiamento da FINEP, capitaneado pelos colegas mais seniores do grupo, pudemos fazer uma importante reforma no laboratório e adquirir novos equipamentos, colocando o grupo de Catálise do INT em um patamar de excelência internacional. Em 2008 assumi a chefia da Divisão de Catálise e Processos Químicos, cargo que exerci até 2017. Nesse período, trabalhamos intensamente em projetos apoiados pelos fundos setoriais e pelas Redes Temáticas da Petrobras, fundamentais para a consolidação da Catálise no Brasil na entrada do século 21. Através dessa atuação nas Redes Temáticas, coordenei vários projetos de P&D e de infraestrutura que permitiram realizar uma nova reforma no Laboratório de Catálise, ampliando sua área física e infraestrutura instrumental. Ainda com recursos das Redes, fui responsável pela expansão da atuação do INT em Catálise criando o Laboratório de Catálise Combinatorial em 2009, com foco em experimentação highthroughput. Em 2017 fui convidado pelo então diretor do INT, prof. Fernando Rizzo, a ocupar a Coordenação de Tecnologias Aplicadas do Instituto, compondo sua diretoria até o término de seu mandato recentemente neste 2020.
Enquanto tudo isso acontecia no INT, fui supervisor da Regional 2 da SBCat por dois mandatos consecutivos, ocupando a função entre 2011 e 2015. Em 2013 fui convidado a ingressar como professor permanente do Programa de Pós-graduação da Seção de Engenharia Química do Instituto Militar de Engenharia – IME, onde oriento estudantes de mestrado e doutorado.
Entre 2014 e 2017 fui professor visitante da Faculdade de Ciências Químicas da Universidade de Concepción no Chile. No biênio seguinte, em 2018/2019, fiquei como professor visitante na Unidade de Catálise e Química do Estado Sólido da Universidade de Lille na França. Ainda mantenho produtivas parcerias com aqueles grupos no Chile e na França, além de colaborações com colegas no Georgia Institute of Technology (EUA) e na Universidade de Manchester (Inglaterra).
Há anos tenho focado meu trabalho em processos de conversão de biomassa, com particular interesse para as transformações em fase aquosa (Aqueous Phase Processing) explorando novas estratégias de processo e novas arquiteturas de catalisadores heterogêneos. para obtenção de aditivos e bioprodutos.
Sou bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq desde 2008, e em 2019 fui agraciado com a distinção Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ.
Minha caminhada ainda segue e, espero, por muitos anos.
É, D. Marlene, parece que está dando certo! Como sempre, foi bom ter te ouvido.
Nasci em Fortaleza-CE em 1967 e vim para Brasília-DF em 1970. Iniciei o curso de Psicologia na Universidade de Brasília (UnB) em 1984 e após cursar três disciplinas do curso de Química, decidi mudar de curso. Me graduei no Bacharelado em Química em 1989, iniciando o mestrado em Química sob a orientação do Prof. David Geeverghese. Durante a graduação e o mestrado participei de congressos da SBPC e da SBQ e o encanto pela pesquisa aumentou. Logo após a defesa do mestrado (1992) e já casada com José Dias (Químico), aceitei o convite de uma colega da UnB para atuar como colaboradora na análise de processos de licenciamento de pesticidas no IBAMA. Após um breve período de experiência tive certeza de que gostaria de seguir a carreira acadêmica. Assim, me preparei para um concurso público para provimento de vagas para Professor no Departamento de Química da UnB no primeiro semestre de 1993 e fui aprovada.
Com o incentivo de alguns professores do IQ, o sonho e a iniciativa de cursar meu doutorado no exterior, de imediato submeti projetos para CNPq e CAPES para realização de doutorado na University of Florida - USA sob a orientação do Prof. Russell S. Drago. Iniciei o doutorado em 1994 e durante quatro anos tive a oportunidade de conviver e aprender muito em um grupo de pesquisa dinâmico. Fui então apresentada ao universo de pesquisas em Catálise, me apaixonei de imediato e segui minha carreira de pesquisa.
Minha primeira linha de pesquisa foi o estudo da acidez de zeólitas e o encapsulamento de complexos metálicos. Participei das conferências anuais que o Prof. Drago organizava (Florida Catalysis Conference e Florida Environmental Conference). Nas referidas conferências tive a oportunidade de conhecer pesquisadores renomados como o Prof. Avelino Corma (Universidade de Valencia, Espanha) e Rutger Van Santen (Eindhoven, Holanda). O contato com estes e outros pesquisadores de alto nível em vários eventos ao longo de minha carreira foram bastante estimulantes para o desenvolvimento de minhas pesquisas. Defendi minha tese de doutorado em novembro de 1997 e tive a tristeza de receber a notícia do falecimento do Prof. Drago na véspera de voltar ao Brasil (dezembro de 1997). Apesar do choque, eu queria retornar ao Brasil e iniciar uma nova fase na minha vida profissional.
De volta a UnB em 1998, eu e o Prof. José Dias criamos o Grupo de Catálise Química do IQ/UnB e iniciamos nossas pesquisas nessa área, ainda inexistente na universidade. Muitos foram os desafios por falta de infraestrutura adequadas numa área tão multidisciplinar. Com bastante esforço e persistência conseguimos ganhar os primeiros projetos de pesquisa a partir de 2005 (CNPq, Capes, Petrobras e FAP-DF). Novas linhas de pesquisas foram surgindo como adsorção de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (parceria com o Prof. Andres Campiglia, University of Central Florida), reações multicomponentes e desidratação de álcoois.
O acolhimento recebido dos Prof. Luiz Pontes, que nos introduziu na Regional 1 da SBCat, bem como o carinho de diversos membros desta regional, Prof. Victor Teixeira, Prof. Yiu Lam, Profa. Sibele Pergher, Profa. Katia Gusmão e tantos outros representam muito. Por fim, nada do que foi realizado seria possível sem a presença e compromisso dos estudantes que tive e tenho de IC, mestrado e doutorado. Eles são realmente o motor de propulsão de um grupo de pesquisa (família LabCat/UnB) e que fazem muito com que os projetos virem realidade pela qualidade na execução dos experimentos. Assim, não importa as crises e dificuldades que enfrentamos ao longo de toda nossa vida, se há um sonho e um objetivo que nos direciona, vale a pena tentar exaustivamente.
A minha trajetória profissional teve início na Refinaria de Paulínia da PETROBRAS, como técnico de laboratório de 1983 a 1988. Concluí o Bacharelado em Química com Atribuições Tecnológicas na UNICAMP em 1990 (Licenciatura em 1991). Durante a minha graduação atuei como aluno de Iniciação Científica daquele que seria o grande responsável pela minha formação científica, o Prof. Dr. Ulf Schuchardt (que viria a ser o meu orientador de mestrado e de doutorado), como bolsista financiado pela empresa Nitrocarbono S/A e, posteriormente, pela FAPESP. Em 1992 finalizei o mestrado (em catálise homogênea – processos oxidativos biomiméticos) e, em 1997, o doutorado (catálise heterogênea – peneiras moleculares). Este trabalho foi pioneiro no país e entre os primeiros no mundo a tratar dos métodos de síntese de peneiras moleculares mesoporosas do tipo MCM-41 (uma colaboração com o Prof. Roger Sheldon, Delft University of Technology, Holanda).
A experiência didática teve início em 1988, como professor do ensino médio público e privado. No período de 1994 a 2008 atuei na PUC-Campinas, onde formei o primeiro grupo de pesquisa na área de química da universidade. Sem acesso a programas de pós-graduação, neste período orientei 55 alunos de IC, com auxílio financeiro principalmente da FAPESP (JP e auxílios regulares) em pesquisas das áreas de adsorção e de catálise. As primeiras orientações de pós-graduação ocorreram após credenciamento na Faculdade de Engenharia Química da UNICAMP, numa parceria com a Profa. Dra. Elizabete Jordão.
Desde 2008 atuo na Universidade Federal do ABC. Temos um grupo de pesquisa com forte atuação na área de catálise homogênea e heterogênea e também na investigação de processos de adsorção. Os principais projetos em andamento estão relacionados a produção de catalisadores, conversão de biomassa e tratamento de efluentes por adsorção seletiva. Na UFABC orientei 20 dissertações e 5 teses, além da supervisão de 3 pós-doutoramentos, sendo a grande maioria dos trabalhos na área de catálise heterogênea. Ex-alunos mantiveram sua atuação na área de catálise, como profissionais da indústria química ou docentes do ensino superior (UNIFESP, UFGD). Também participo do Núcleo de Tecnologias Sustentáveis, que reúne 10 pesquisadores de distintas áreas, com o objetivo de propiciar o desenvolvimento e aperfeiçoamento de processos que utilizam biomassa, resíduos ou rejeitos industriais para a possível criação de iniciativas de inovação e de novos negócios. Na gestão, já atuei como Coordenador do Bacharelado em Química, do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia/Química e do Doutorado Acadêmico Industrial (DAI), e também como Pró-Reitor Adjunto de Pós-Graduação. Atualmente, sou o Vice-Reitor da Universidade.
Na pesquisa, temos diversas colaborações internacionais: Prof. Georgiy Shul’pin (Rússia), Profa. Isabel Fonseca, Prof. Armando Pombeiro, Dra. Marina Kirillova e Prof. Alexander Kirillov (Portugal), Prof. Jorge Sepúlveda Flores (Argentina), Prof. Ryong Ryoo (Coréia do Sul), Prof. Pierre Dixneuf e Dr. Christian Bruneau (França), Prof. Vladislav Sadykov (Rússia) e com o Prof. Paolo P. Pescarmona (Holanda). O Prof. Pescarmona atuava no “Centre for Surface Chemistry and Catalysis” da Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica, onde realizei um estágio em 2012. No Brasil, destaco colaboração com diversos pesquisadores do IPEN, UNIFESP, UNICAMP, UFAL, UFGD, UFSCar e USP-São Carlos. Todos os alunos de doutorado sob minha orientação realizaram parte de seus trabalhos nos laboratórios dos nossos colaboradores no exterior. Financiamentos da FAPESP, do CNPq, da CAPES e da Finep tem permitido o desenvolvimento dos projetos e a manutenção dos laboratórios. Em 2016 recebi o Prêmio UFABC de Inovação.
Finalmente, mas não menos importante, tive o enorme prazer de compartilhar a Diretoria da Sociedade Brasileira de Catálise nos biênios 2015-2017 e 2017-2019 com o saudoso professor e amigo Victor Teixeira da Silva.
Catálise no Brasil, também faz parte da minha vida!
Eu iniciei o curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1982. A minha história na catálise começou no último período do curso quando me inscrevi na disciplina optativa de catálise que era ministrada pelo Professor Martin Schmal. Na época ele me perguntou se eu queria fazer iniciação científica com ele no Programa de Engenharia Química (PEQ) da COPPE, mas avisou que não tinha bolsa! Foi assim que comecei a aprender sobre a preparação de catalisadores e algumas técnicas de caracterização disponíveis nos laboratórios 2 e 3 do porão do bloco H da COPPE. Como gostei muito dessa linha de pesquisa e o Schmal convencia qualquer um sobre as maravilhas da catálise, eu resolvi fazer o mestrado no PEQ/COPPE sob sua orientação e do pesquisador Roger Frety do Institut de Recherches sur la Catalyse/França, que passava um período no Brasil nessa época. Foi nesse período, estudando a aplicação de catalisadores bimetálicos na reação de hidrogenação, que fiz muitos amigos que hoje estão em diferentes universidades ensinando e trabalhando na área de catálise.
Durante o meu mestrado eu me interessei bastante pela caracterização de catalisadores. Então, eu resolvi aprofundar e adquirir novos conhecimentos em diferentes técnicas de caraterização realizando o doutorado nessa área. Em função do meu contato com o Roger Frety, eu fui fazer um doutorado sanduíche no Institut de Recherches sur la Catalyse (IRC) em Lyon na França, e lá fiquei por quase dois anos sob a sua supervisão e do pesquisador Bernard Moraweck que viria influenciar muito os meus conhecimentos. Este período foi muito bom pois os laboratórios do IRC tinham os mais modernos equipamentos de caracterização de catalisadores, com várias técnicas realizando medidas in situ, o que não havia no Brasil naquela época. Bernard Moraweck era o responsável pela realização das medidas de espectroscopia de absorção de raios X (XAS) dos catalisadores que eram usados nos diferentes grupos de pesquisa do IRC. Desta forma eu pude fazer um curso sobre esta técnica, aprender sobre o tratamento de dados e fazer medidas experimentais no já desativado laboratório sincrotron LURE em Orsay. Esta parceria com o Bernard continuaria ainda por muitos anos depois da minha defesa do doutorado, o que permitiu continuar usufruindo desta técnica até a entrada em funcionamento do sincrotron Brasileiro, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Foi também durante o meu doutorado que tive as primeiras experiências com a orientação de alunos. Na época, o Schmal me convidou para coorientar informalmente dois alunos de mestrado que trabalhavam na minha linha da dissertação do mestrado.
Após a defesa do meu doutorado eu realizei um pós-doutorado na própria COPPE por um ano e meio. Particularmente, eu passei a usar o conhecimento que eu tinha adquirido sobre a técnica de XAS na França para realizar as medidas do grupo de catálise da COPPE, desde o início da operação do LNLS. Durante esse meu pós-doutorado eu acabei realizando um concurso para pesquisador no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), no qual fui aprovado e comecei a trabalhar em 1996. A vaga era para trabalhar no laboratório de catalise do INT. Na época era um grande desafio já que o INT não tinha a moderna infraestrutura que tinha sido montada no recém criado NUCAT na COPPE. Ao mesmo tempo, eu comecei a coorientar dissertações de mestrado e teses de doutorado com o Prof. Luiz Eduardo Pizarro Borges no programa de pós-graduação em química do Instituto Militar de Engenharia (IME).
No início de 1999, o Prof. Daniel Resasco veio ao Brasil participar de um Workshop e me convidou para fazer um pós-doutorado com ele na Oklahoma University entre agosto de 1999 até fevereiro de 2000. Nesse meu pós-doutorado eu comecei a trabalhar em uma área completamente nova para mim e na qual estou até hoje: a reforma do metano com CO2, um tema que já estava atraindo muita atenção da comunidade cientifica devido aos problemas das emissões de gases do efeito estufa.
A partir de 2002 eu comecei a trabalhar mais ativamente com os temas hidrogênio e célula a combustível. Coincidentemente, o Governo Brasileiro iniciou uma série de atividades que acabaram na criação do Programa Brasileiro de Células a Combustível e Hidrogênio, do qual eu participei ativamente na sua elaboração. O programa era baseado em redes cooperativas que eram constituídas por universidades de todo o país. Eu coordenei juntamente com o Prof. Schmal a rede de produção de hidrogênio, que era constituída por 14 instituições de todo o país. Os vários projetos que realizei na linha de produção de hidrogênio e célula a combustível foram extremamente importantes pois permitiram a modernização do Laboratório de Catálise do INT.
Em 2010 eu fui convidado a fazer parte do corpo de docentes permanentes do Programa de pós-graduação em química do IME, o que foi não somente muito importante para a minha carreira, mas, também, extremamente gratificante pois também gosto muito do ensino. Mais recentemente, em 2018, passei a integrar também o corpo de professores docentes do Programa de Engenharia de Biossistemas da Universidade Federal Fluminense. Durante toda a minha vida na catálise, eu participei na coorientação de dissertações e teses com colegas de diferentes universidades como Martin Schmal, Jose Luiz Fontes Monteiro, Lidia Chaloub Diegues, Vitor Teixeira da Silva, Fabio Souza Tonilo, Jose Carlos Pinto todos do PEQ /COPPE/UFRJ; Fabio Barboza Passos, Lisiane Veiga Mattos e Rita de Cássia Colman Simões da Universidade Federal Fluminense; Luiz Eduardo Pizarro Borges do IME; Carla Eponina Hori da Universidade Federal de Uberlândia, Soraia Brandao da Universidade Federal da Bahia, Jose Maria Correa Bueno da Universidade Federal de São Carlos.
Mais recentemente, eu comecei a trabalhar bastante no tema conversão de biomassa lignocelulósica através de diferentes tecnologias como a gaseificação, pirolise e fracionamento. Em função desta linha de pesquisa, eu acabei aceitando um novo desafio, e atualmente sou professor visitante na Ecole Centrale de Lille desde 2019.
Durante todo este meu percurso na catálise, eu sempre procurei estabelecer parcerias com professores brasileiros e estrangeiros pois acho muito gratificante a troca de conhecimentos e de experiências que temos nestas cooperações. Neste sentido, eu poderia citar como colaboradores estrangeiros: Daniel Resasco (Oklahoma University), Gary Jacobs (The University of Texas at San Antonio), Burtron H. Davis (The University of Kentucky), Xenophon Verykios (University of Patras), Krijn de Jong (University of Utrecht), Harry Bitter (University of Wageningen), Ted Oyama (Universidade de Toquio), Eduardo Lombardo, Laura Cornaglia e John Munera (INCAPE), Robert Farrauto (Columbia University) e Heick Ehrich (Leibniz Institute for Catalysis), Cesar Steil (Université de Grenoble), Nicolas Bion, Françoise Epron, Frederic Richard (Université de Poitiers), Sebastien Paul e Robert Wojcieszak (Centrale Lille), Patrick Gelin e Francisco J. Cadete Santos Aires (Institut de Recherches sur la Catalyse), Andras Erdohelyi (University of Szeged), Johannes Lercher (PNNL).
Eu também venho participando dos congressos nacionais de catálise, incialmente organizados pelo Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), começando no 4º Seminário de Catálise organizado pelo Arnaldo Faro em Canela (1987), e depois da criação da Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat), na série dos Congressos Brasileiros de Catálise a partir de 1997 em Águas de Lindoia. Em vários destes seminários/congressos participei das comissões organizadora ou científica, sendo o presidente da comissão científica do 15º Congresso Brasileiro de Catálise realizado em Armação de Búzios em 2009. Com relação a SBCat, eu fui supervisor da regional 2 (Rio/Minas) em dois períodos (2007-2009; 2009-2011). Por duas vezes, eu fui agraciado pela SBCat com dois prêmios: Jovem Pesquisador em Catálise (2001) no 11º Congresso Brasileiro de Catálise em Bento Gonçalves e Pesquisador em Catálise (2011) no 16º Congresso Brasileiro de Catálise em Campos do Jordão.
Já se passaram muitos anos desde que comecei a trabalhar na área de catálise. Devo muito do que realizei a colegas e alunos com quem trabalhei ao longo desses anos. Vivi muitas crises econômicas, mas nunca passei por um período tão conturbado como nessa crise sanitária! Mas este é um lado fascinante da catálise pois mesmo nessa situação, nós podemos tentar contribuir com o que aprendemos para ajudar a ter um mundo melhor.
Não gostaria de usar este espaço para colocar apenas informações como se fosse um CV, mas mais para contar um pouco como iniciei e um pouco da minha trajetória com a preocupação maior de levar uma mensagem aos jovens: de que mesmo com todas as dificuldades é possível se construir algo, por mais que pareça impossível. A construção de um sonho leva anos, décadas e você pode nem mesmo vê-lo consolidado, mas não importa, o importante é contribuir. Sou graduado em Química Industrial pela Universidade Federal do Pará (1978) e Mestre em Ciência e Tecnologia de Polímeros pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). O meu verdadeiro contato com a Catálise se deu ao iniciar (1989) o meu Doutoramento na Université Pierre et Marie Curie - Paris/França, hoje Université Sorbonne, sob a orientação do Professor Gérald Djega-Mariadassou. A temática da tese foi toda voltada para a obtenção de combustíveis renováveis a partir de óleos vegetais usando catalisadores heterogêneos. Na época, todos os grupos importantes no Brasil em Catálise estavam situados nas regiões Sudeste e Sul. O Nordeste já contava com alguns grupos, mas na sua maioria, ainda formados por jovens pesquisadores.
A Catálise no Brasil foi desenvolvida em cima de trabalhos ligados a Indústria do Petróleo. Tendo isto em mente, ao terminar o Doutorado e com a obrigatoriedade de retornar ao Brasil e à minha Universidade de origem (Universidade Federal do Pará) surgiram várias perguntas extremamente inquietantes: Como desenvolver trabalhos com catálise heterogênea em uma região e em uma Instituição onde toda a pesquisa era voltada para Produtos Naturais? Como desenvolver trabalhos com catálise em uma região sem massa crítica e nem infraestrutura apropriada para trabalhos na área? Como conseguir financiamento para projetos em Catálise em um Estado que nunca produziu petróleo? A partir destas constatações tomamos a decisão de lutar para que a catálise tivesse um lugar na região ou pelo menos na Instituição. Ao longo destes quase 30 anos tivemos várias vitórias, mas também muitas derrotas. Das vitórias, criar um grupo de catálise voltado para o desenvolvimento de catalisadores para obtenção de combustíveis renováveis e produtos químicos de alto valor agregado com uma infraestrutura mínima para desenvolver trabalhos na área e a formação de dezenas de profissionais que hoje desenvolvem atividades nesta e em outras instituições, profissionais estes que terão como responsabilidade levar a catálise a um patamar mais elevado que o alcançado até o momento. Sem dúvidas, consideramos que somos parte da construção de algo e que teremos que lutar por gerações para termos grupos de pesquisa consolidados e com reconhecimento Nacional e Internacional em Catálise na Região Amazônica. A minha geração foi a partida e aos que vêm, o céu é o limite! Obrigado.